26.12.11

Cinema: A Pele que Habito


Assisti a esse filme no início do mês passado, mas precisamente dia onze (coleciono ingressos de cinema). Demorei para escrever sobre ele porque foi um caso diferente. Definitivamente, não gostei do filme. Mas algo nele chamou a minha atenção.


Em A Pele que Habito, filme de Almodóvar, Antonio Banderas interpreta o Dr. Ledgard, um renomado cirurgião que se dedica à invenção de uma pele extremamente resistente. Tal dedicação se dá devido a um acidente que deixou sua mulher totalmente desfigurada. Não demora muito para que comecem a suspeitar se Ledgard agiu com ética ao realizar e aperfeiçoar sua descoberta. O filme mostra o caminho bastante surpreendente percorrido por ele até chegar ao ápice de sua invenção e as consequências disso.


Quero comentar esse filme como uma forma de falar sobre o tipo de histórias e cenas que gosto ou não. A Pele que Habito é o tipo de filme que eu não gosto de assistir. Embora a história e o seu suspense tenham o seu valor e exista um público para esse estilo, eu não curto o tipo de incômodo que esse filme causa. Por exemplo, um aspecto que eu não aprecio nos filmes é a exploração da sexualidade de forma exagerada. Eu não gosto de cenas de sexo, muito menos repetidas vezes. Sempre acho que a retratação do sexo nos cinemas é bacana quando passada de uma forma romântica ou subentendida. Reconheço que A Pele que Habito não é e nem se propõe a ser um filme romântico, logo essa não seria uma falha do filme e sim um aspecto que não me agrada. Tantas cenas de sexo e, sobretudo, de estupro, fizeram com que eu passasse o filme com os olhos entreabertos como quem não quer ver, mas pagou para assistir.


E foi assim que eu passei o filme inteiro: com os olhos entreabertos. Os estupros, as cenas de violência, a bizarrice da história, as características doentias das personagens...  Tudo isso me incomodava e causava um desconforto que eu não gosto de sentir. Parece óbvio dizer não gostar de sentir desconforto, visto que é um sentimento ruim, mas eu gosto, por exemplo, de sentir medo em filmes de terror.


Mas preciso comentar o que o filme teve de positivo para mim. A Pele que Habito é sobre haver algo dentro de cada pessoa que é tão profundo e tão dela que ninguém consegue captar ou atingir isso. Aquilo que as pessoas conseguem perceber a respeito do outro no dia a dia e que pode ser modificado, seja externa ou mesmo internamente, são características que ainda estão na superfície. E não importa o quanto nossa superfície seja criticada, violada, afetada e transformada todos os dias, existe uma essência em cada um de nós que corresponde ao que somos realmente. Uma essência tão desconhecida quanto poderosa. E aí, eu preciso admitir, o filme agrada. E surpreende.