31.12.11

Retrospectiva: Filmes do ano


Coleciono ingressos de cinema desde os treze anos (ou seja, há quase nove anos). Com o passar dos anos a coleção foi ficando cada vez mais completa, porque no início eu esquecia muitas vezes de guardar os ingressos ou guardava em lugares diferentes e acabava perdendo. Justamente por colecionar os ingressos é que pude fazer esse último post do ano, com os filmes que assisti no cinema em 2011, separando-os em três listas: os que gostei, os que não gostei e aqueles filmes “mais ou menos”, que não são exatamente fascinantes, mas distraem. Além disso, destaquei o grande favorito de 2011! Deixei para fazer este post no último dia do ano pra poder colocar realmente todos os filmes que eu vi. Imagino que alguns ingressos eu tenha jogado fora junto com notas fiscais (acontece), mas a maioria está aí (perdi o de Bravura Indômita, mas classifiquei o filme mesmo assim). Dentro de cada categoria, procurei colocar os filmes na ordem em que eu assisti.

Comecei esse blog em junho de 2011 e a partir daí escrevi sobre alguns filmes que eu vi, então coloquei o link ao lado do nome do filme. Não chamo de críticas os textos que escrevo sobre os filmes porque acho que isso deixa o texto carregado de uma certa responsabilidade e, na verdade, eu escrevo sobre eles baseada apenas no meu gosto, então é mais uma forma de compartilhar a minha opinião do que analisar o filme seguindo critérios estabelecidos. Ah, e vale lembrar que só bem recentemente eu realmente passei a falar sobre os filmes em cartaz. Alguns filmes poderiam ter rendido textos bacanas, mas eu acabei não escrevendo sobre eles. Mas em 2012 eu quero escrever mais. Bom, vamos lá?

Não gostei  
Entrando Numa Fria
Eu sou o número 4
O Ritual
Se Beber, não Case 2
Cilada.com
O Retorno de Johnny English
A Pele que Habito (leia aqui)
Roubo nas Alturas
Missão Impossível 4
    + ou -
    O Turista
    Caça às Bruxas
    O Besouro Verde 3D
    Bravura Indômita
    Esposa de Mentirinha
    Todo Mundo tem Problemas Sexuais
    Não se preocupe, nada vai dar certo
    Planeta dos Macacos: A Origem (leia aqui)
    O Homem do Futuro (leia aqui)
    Cowboys e Aliens (leia aqui)
    Larry Crowne - O amor está de volta
    Gato de Botas 3D
    Noite de Ano Novo (leia aqui)
    Imortais 3D
      Gostei 
      Megamente
      Enrolados 3D
      O Discurso do Rei
      Cisne Negro
      Rango
      Piratas do Caribe 4 3D
      Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte II 3D
      Capitão América 3D
      Os Três Mosqueteiros 3D (leia aqui)
      Gigantes de Aço (leia aqui)
      O Palhaço (leia aqui)
      Amanhecer - Parte 1
      Um Dia (leia aqui)
        Não foi difícil escolher meu favorito, porque eu realmente fiquei apaixonada por esse filme, mas posso dizer que animações como Megamente, Enrolados e Rango são simplesmente geniais. Também gostei bastante de O Discurso do Rei, mas o favorito realmente foi...

          
        Meia Noite em Paris é um filme de Woody Allen e traz um personagem principal (chamado Gil Pender, interpretado por Owen Wilson) que escreve roteiros para Hollywood e encontra-se descontente com a sua carreira, sonhando em ser um grande escritor. Em sua viagem à Paris, com sua noiva e os pais dela, Gil sente-se bastante entediado com as programações da viagem e principalmente com as pessoas a sua volta. Nesse clima de frustração, questionando sua vida e escolhas, ele acaba realizando uma espécie de viagem no tempo e conhecendo Paris nos anos 20.

        Adoro a Rachel McAdams, atriz que interpreta a noiva. Marion Cotillard é absurdamente linda. Adrien Brody interpretando Salvador Dalí, para mim, foi um dos melhores momentos do filme. Ele é um dos meus atores favoritos, sem dúvida. Como se já não bastasse um elenco de queridinhos, eu me identifiquei muito com o personagem de Owen Wilson. A vontade de ser um importante escritor, o tédio que ele sente rodeado por pessoas com as quais não se identifica e sua personalidade anti-social são coisas que vejo em mim também. A volta ao passado, as personalidades importantes que aparecem, Paris linda de morrer, a nostalgia... Tudo é uma delícia de assistir. O filme mostra a constante insatisfação com o presente, a magia que atribuímos ao passado e a necessidade de buscar a realização na realidade. Favorito de 2011 e da vida.

        29.12.11

        Cinema: Noite de Ano Novo


        Desde que assisti ao trailer, Noite de Ano Novo me pareceu um filme fraco. Posso dizer que, do elenco, gosto muito da Hilary Swank e do Zac Efron. Gosto pessoal mesmo, suficiente para me fazer assistir ao filme. Mas, falando sobre esse filme, antes preciso comentar uma coisa. Se tem um título que eu havia pensado para críticas a respeito de Noite de Ano Novo antes mesmo de assisti-lo era “mais do mesmo”. Mas, na época em que eu devorava revistas sobre cinema (especialmente a SET), lembro que ler uma crítica que começasse com “mais do mesmo”, ao invés de tirar a credibilidade do filme, tirava a credibilidade da crítica. Porque “mais do mesmo” é usar de falta de criatividade para falar da falta de criatividade de um filme. E, já disse e repito, eu sou do tipo que gosta dos clichês dos romances, então esse discurso não é do tipo que me convence a deixar de ver um filme. Voltemos a expressão que eu utilizei: filme fraco. É isso que ele é. Um filme usar de uma fórmula conhecida e ter um final previsível não faz dele um filme ruim, ele pode ser isso e ser muitas outras coisas como engraçado, divertido, emocionante, capaz de fazer as pessoas refletirem ou mesmo saírem do cinema renovadas. Mas Noite de Ano Novo não faz isso.


        O filme trata de uma porção de histórias, que mais cedo ou mais tarde, acabam se cruzando. Tem a filha que quer passar o ano novo com os amigos e a mãe não deixa, o carinha que odeia a festa de ano novo e fica preso no elevador com uma jovem que estava justamente indo cantar nessa comemoração, tem a senhora que pede demissão e quer cumprir uma lista de resoluções, e por aí vai. A mais chata dessas histórias, sem dúvida, é a do cantor que quer reatar com a moça da qual fugiu após pedi-la em casamento. Duas histórias eu gostei bastante: a do senhor ranzinza que está no hospital, morrendo sozinho e entristecido por uma vida onde ele assume ter agido mal com sua família; e a do homem que possui apenas um misterioso bilhete de uma paixão sua, garantindo encontrá-lo na festa de Ano Novo. Essa última acaba sendo o grande mistério do filme e foi muito bacana de acompanhar. As demais histórias não tem nada que as torne realmente interessantes.

        26.12.11

        Cinema: A Pele que Habito


        Assisti a esse filme no início do mês passado, mas precisamente dia onze (coleciono ingressos de cinema). Demorei para escrever sobre ele porque foi um caso diferente. Definitivamente, não gostei do filme. Mas algo nele chamou a minha atenção.


        Em A Pele que Habito, filme de Almodóvar, Antonio Banderas interpreta o Dr. Ledgard, um renomado cirurgião que se dedica à invenção de uma pele extremamente resistente. Tal dedicação se dá devido a um acidente que deixou sua mulher totalmente desfigurada. Não demora muito para que comecem a suspeitar se Ledgard agiu com ética ao realizar e aperfeiçoar sua descoberta. O filme mostra o caminho bastante surpreendente percorrido por ele até chegar ao ápice de sua invenção e as consequências disso.


        Quero comentar esse filme como uma forma de falar sobre o tipo de histórias e cenas que gosto ou não. A Pele que Habito é o tipo de filme que eu não gosto de assistir. Embora a história e o seu suspense tenham o seu valor e exista um público para esse estilo, eu não curto o tipo de incômodo que esse filme causa. Por exemplo, um aspecto que eu não aprecio nos filmes é a exploração da sexualidade de forma exagerada. Eu não gosto de cenas de sexo, muito menos repetidas vezes. Sempre acho que a retratação do sexo nos cinemas é bacana quando passada de uma forma romântica ou subentendida. Reconheço que A Pele que Habito não é e nem se propõe a ser um filme romântico, logo essa não seria uma falha do filme e sim um aspecto que não me agrada. Tantas cenas de sexo e, sobretudo, de estupro, fizeram com que eu passasse o filme com os olhos entreabertos como quem não quer ver, mas pagou para assistir.


        E foi assim que eu passei o filme inteiro: com os olhos entreabertos. Os estupros, as cenas de violência, a bizarrice da história, as características doentias das personagens...  Tudo isso me incomodava e causava um desconforto que eu não gosto de sentir. Parece óbvio dizer não gostar de sentir desconforto, visto que é um sentimento ruim, mas eu gosto, por exemplo, de sentir medo em filmes de terror.


        Mas preciso comentar o que o filme teve de positivo para mim. A Pele que Habito é sobre haver algo dentro de cada pessoa que é tão profundo e tão dela que ninguém consegue captar ou atingir isso. Aquilo que as pessoas conseguem perceber a respeito do outro no dia a dia e que pode ser modificado, seja externa ou mesmo internamente, são características que ainda estão na superfície. E não importa o quanto nossa superfície seja criticada, violada, afetada e transformada todos os dias, existe uma essência em cada um de nós que corresponde ao que somos realmente. Uma essência tão desconhecida quanto poderosa. E aí, eu preciso admitir, o filme agrada. E surpreende.

        22.12.11

        Cinema: Um Dia


        No início do ano, notei algumas pessoas lendo o livro Um dia e fiquei interessada em buscar informações sobre a história, coisa que acabei não fazendo. Quando vi o cartaz do filme, com todo aquele clima meio romântico, meio nostálgico, fiquei bastante curiosa. Para completar, Anne Hathaway, fabulosa e querida desde o meu amado filme O Diário da Princesa, está no elenco. Quanto à diretora, Lone Scherfig, a única referência que possuo é que o seu filme Educação está empoeirando na minha lista de filmes para assistir. Então, decidi que assistiria ao filme um pouco pela atriz, um pouco pelo cartaz, um pouco por saber que se tratava de um romance.


        Um dia é um romance/drama que conta a história de Emma e Dexter. Os dois se conhecem na noite de formatura, no dia 15 de julho de 1988. O que era para ter sido uma noite de sexo se transforma no início de uma forte ligação entre os dois, sempre entre a amizade e o amor. O filme mostra o que ocorre com esse relacionamento e na vida deles ao longo de vinte anos, contando o que se passa todo dia 15 de julho. O lado positivo da história ser contada baseando-se apenas em um dia do ano é que certos acontecimentos ficam subentendidos e, pelo menos em minha opinião, isso deu ao filme uma maior sensibilidade visto que as cenas que representariam tais acontecimentos acabam sendo representadas por diálogos onde o espectador descobre o que passou na vida da personagem ao longo do último ano. Um fator negativo é que, por serem vinte anos, ou seja, vinte dias quinze de julho, a impressão é a de que, para dar conta de mostrar esses vinte dias no tempo de um filme, a história passa correndo, o que prejudica um maior envolvimento com alguns acontecimentos. Imagino que isto não ocorra no livro (e aqui vale lembrar que o roteirista do filme é o próprio autor do livro, David Nicholls).


        Desde o início do filme Emma e Dexter são opostos. Emma é uma garota simples e muito inteligente. Enquanto trabalha como garçonete e adia a publicação de seu livro, Dexter consegue um emprego na TV e é um cara mimado e egoísta. O mais interessante é perceber como essa idéia de opostos é mostrada ao longo do filme. O passar dos anos mostra Emma cada vez menos apagada, tornando-se uma mulher forte e bem resolvida, usando o tempo a seu favor para crescimento pessoal e profissional. Dexter vai se degradando, como um cara que viveu os excessos da juventude e começa a envelhecer e sentir o peso das consequências de suas escolhas. E é o desespero de Dexter diante do vazio de sua vida que faz com que ele não seja inteiramente detestável, revelando-se um cara perdido e solitário. É exatamente nesses momentos que fica nítida a importância de Emma em sua vida. Tudo bem que a menina certinha ajudar o cara arrogante pode ser meio previsível, mas não significa que seja ruim.


        Um Dia retrata as mais diversas relações e as decepções geradas por elas: a dificuldade de relacionamento com os pais, a traição de um amigo, casamentos vazios e a tênue linha que separa a amizade do amor. Mas erra em um aspecto: parecendo a história contada com uma certa pressa, uma de suas cenas mais importantes falha ao não usar de sensibilidade para ser retratada - sensibilidade muito bem usada em outros momentos do filme. A cena acaba por ser meramente chocante, outro erro que eu imagino - e espero - que não ocorra no livro. Mas o filme não me decepcionou, é um bom romance, onde as personagens conquistam você. Fiquei com vontade de ler o livro.

        28.11.11

        Elixir, o livro da Hilary Duff


        Com 38.2º graus de febre, olhos ardendo, nariz dolorido de tanto lencinho de papel esfregado nele e a minha cabeça parecendo um bloco de cimento de tão pesada, eu não tinha muitas opções. A fim de comprar um pacote de TV a cabo mais barato, meus pais escolheram um que não tem os meus canais favoritos - aliás, os únicos que eu assisto. Além disso, alguns dos canais desse novo pacote não estão pegando na TV do meu quarto. Na internet, todos os assuntos estavam em torno dos jogos de futebol e eu nunca tenho paciência para acompanhar os torcedores fanáticos nessa época. Eu os acho bastante chatos, mas relevo e simplesmente evito, afinal eu também tenho lá os meus “fanatismos” (se é que essa é a palavra mais adequada). Acontece que, achando todas essas discussões - que muitas vezes viram brigas - bastante chatas e não entendendo nada e nem gostando de futebol, a internet também não era uma opção para mim. O que eu mais gosto de fazer realmente é ler um livro, mas este não foi o meu ano da leitura. Talvez pela enorme quantidade de textos da faculdade que, como disse um professor, faz a gente ler o que mandam e não ter tempo para ler o que quer. Talvez porque foi um ano ruim e a maior parte do tempo eu estava sem cabeça para me concentrar em uma leitura, fosse obrigatória ou não. Bom, com a falta de opções e o tédio da febre, resolvi dar uma olhada nas leituras que eu poderia fazer. Há dois dias atrás, eu tinha terminado a leitura de Na pior em Paris e Londres, do George Orwell, um dos meus escritores favoritos (vou falar sobre esse livro aqui depois). Abri o meu armário na parte onde guardo meus livros e mangás e me dei conta de que ainda não tinha lido o livro da Hilary Duff.


        Como ficou bem claro no meu post sobre o dia em que a conheci na Bienal do Livro, eu sou uma grande fã (alguém falou em “fanatismos”?). Começou por volta dos meus doze anos, quando ela interpretava uma garota que não era considerada a mais bonita nem a mais popular da escola, tinha dois fiéis amigos e uma família que, aparentemente, a fazia pagar mico. Claro que era uma série pré-adolescente que passava a mensagem de ser você mesmo. Claro que eu adorava. Depois ela virou uma espécie de inspiração por ser uma celebridade (não gosto dessa palavra) que não estava se metendo em confusões como as outras que surgiram na mesma época que ela e das quais eu também gostava. Agora, seguindo carreira de escritora, a minha admiração só cresce porque o meu sonho desde criança é ser escritora (e professora). Sei lá, embora ela seja infinitos dólares mais rica que eu, de alguma forma eu me identifico com ela.

        Então peguei o livro que seria o meu companheiro aquele dia. Acabei lendo o livro inteirinho e por isso terminei a leitura as quatro horas da manhã do dia seguinte. A leitura é tão envolvente e fácil que não dá vontade de parar de ler. O suspense da história tem um certo terror, mas o romantismo e a delícia de ser levado ao passado a cada sonho da personagem principal quebram qualquer mal estar que a história poderia causar. É uma delícia de ler. 

        Elixir é narrado pela personagem principal, Clea Raymond, uma menina de 17 anos, filha de um renomado cirurgião e uma reconhecida política. Tendo crescido em meio aos holofotes, Clea detesta os paparazzi, mas tem paixão por fotografias que conseguem capturar a essência da imagem, que passam sentimento. A personagem usa um colar - presente do seu pai quando ela fez cinco anos - com um pingente de íris, onde as três pétalas representam a , a coragem e a sabedoria. Seu pai desapareceu há um ano em uma viagem que fez a trabalho para o Rio de Janeiro e as fotos da última viagem de Clea à Europa revelam a presença de um misterioso homem em todos os diferentes locais em que esteve. Para completar, Clea começa a ter sonhos com esse homem, vivendo quatro mulheres diferentes, em diferentes épocas: a Itália renascentista, uma região rural da Inglaterra cem anos depois, a França do século XIX e Chicago na Era da Proibição. Tudo isso somado a uma viagem ao Rio e uma história que surge em torno do tal elixir transformam a história em um suspense gostoso de acompanhar. A história tem continuação e a sinopse de Devoted, o segundo livro, já pode ser encontrada na internet, disponível em português (mas só recomendo após a leitura do primeiro livro, aos interessados).

        Vejam o vídeo sobre o livro, narrado pela Hilary Duff: 


        Nota: Na legenda “valor” (em inglês), aparece como “valor” (em português), mas seria “valentia”, no caso “coragem” mesmo.

        16.11.11

        Gente que não se ajusta


        Um dos meus livros favoritos chama-se “A história de Despereaux”, de Kate DiCamillo. É a história de um camundongo chamado Despereaux Tilling, que não se ajusta aos costumes dos outros camundongos, é apaixonado por música e acaba também se apaixonando pela princesa do castelo em que vive, a princesa Ervilha. Logicamente, é uma história infantil, daquelas pra adulto nenhum botar defeito. Eu sou declaradamente apaixonada por histórias infantis, mas principalmente por histórias de desajustados, que não se comportam da forma esperada, que não se encaixam e buscam um outro destino - histórias contadas de maneira simples e sensível. “A história de Despereaux” é assim, um ratinho cujo nome lhe foi dado para representar o desespero do lugar em que vivia, mas que via além dali.

        Leitor, você deve saber que um destino interessante (algumas vezes envolvendo ratos, outras não) sempre aguarda todo o mundo, camundongo ou gente, que não se ajusta.
        Kate DiCamillo, A história de Depereaux, capítulo três

        O livro acaba por se transformar numa espécie de conto de fadas imprevisível, meio torto. O carinho que tenho por ele vem da mensagem que ele deixa sobre a capacidade que as histórias tem de nos trazer um pouco de luz ("a luz é preciosa em um mundo tão escuro"). Eu me identifico pelo fato de ter sempre me sentido meio por fora, nunca ter me encaixado, e também pelo fato de ter encontrado nos livros e filmes uma espécie de refúgio que logo se transformaria em uma paixão na minha vida.


        Mas não é apenas para falar de um de meus livros favoritos que comecei a escrever. Também quero falar de um filme que vi há pouco tempo: “O Palhaço”. Esse filme conta a história de Benjamin, um sujeito sem identidade, CPF e comprovante de residência que junto com o seu pai forma a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Desde a falta de documentos até o seu trabalho como palhaço, Benjamin definitivamente é um desajustado.  O filme é sensível e simples, para utilizar as mesmas palavras do início do post. Gostoso de assistir, com uma atuação belíssima e uma história sobre gente que não se ajusta. E que faz a gente ver que não se ajustar talvez seja a grande graça nisso tudo.

        25.10.11

        Gigantes de Aço - uma boa surpresa pra mim


        Recentemente vi dois filmes muito bons no cinema: Os três Mosqueteiros em 3D e Gigantes de Aço. O primeiro eu queria muito ver. O segundo, por ser uma união ação + robôs, eu decidi passar longe, mas acabei mudando de ideia. Ainda bem.  

        Não, o meu blog não virou exclusivo para falar sobre filmes (até porque não me comprometo a fazer nenhuma grande crítica), continua sendo um blog pessoal onde eu posto o que eu quero.

        1. Os Três Mosqueteiros
        Esse filme eu já queria ver porque eu sabia que tinha no elenco o Orlando Bloom e ele é um dos meus atores favoritos - gosto dos filmes que ele faz e dos personagens que interpreta (o meu favorito é o Drew Baylor em Tudo acontece em Elizabethtown). Bom, o filme é uma aventura que conta a união do jovem D'Artagnan aos três mosqueteiros (Athos, Porthos e Aramis) e as lutas contra o Duque de Buckingham, interpretado pelo Orlando Bloom. Achei o filme engraçado, divertido e interessante. Acho que a maior graça do filme é a interpretação dada por Freddie Fox ao rei da França, Luis XIII.


        2. Gigantes de Aço
        Gigantes de Aço se passa em 2020 e conta a história de um lutador de boxe que perdeu o seu lugar porque as lutas entre robôs de aço se tornaram mais interessantes por poderem proporcionar ao público a violência e o show que a luta entre os humanos não poderia proporcionar. Com a morte da mãe de seu filho, o lutador Charlie Kenton se vê tendo que tomar conta de um menino de onze anos viciado nas tais lutas e que vai acabar pedindo a ajuda de seu pai para treinar um robô para lutar. É um filme de ação, como eu detesto filmes de ação (e ainda por ter robô no meio da história) eu nem pensava em ver esse filme, mas acabei mudando de idéia quando ouvi algumas pessoas comentarem que o filme era “lindo” e “emocionante”. Ainda bem que eu mudei de idéia, porque é um filme digno de ser assistido em uma sala de cinema e realmente é lindo e emocionante. ^__^

        Vejam o trailer:

        17.10.11

        Filmes de terror para o dia 31


        Com o dia 31 de outubro chegando (umas das minhas datas favoritas!), fiquei com vontade de falar sobre algo que eu curto bastante e tem tudo a ver com a data: filmes de terror. No último post eu comentei três filmes que havia assistido e, como os estilos dos filmes não me agradavam, acabei não gostando realmente de nenhum. Mas vou comentar algo que eu gosto e indicar alguns filmes pra quem curte também. Na verdade, eu gosto dos filmes de terror mais voltados para o suspense (por exemplo, O Sexto Sentido) do que para aquelas cenas apelativas (como em Jogos Mortais). O que me assusta é muito mais o suspense da história bem contada do que sangue pra todo lado. Bom, vamos aos filmes que vi recentemente:

        1. Insidious (2011)
        Vou começar com o que mais gostei. Dos criadores de Jogos Mortais (blergh!) e Atividade Paranormal (<3), Insidious (aqui chamado de Sobrenatural) conta a história de um casal que busca evitar que seu filho, que se encontra em inexplicável estado de coma após um estranho acidente, seja encarcerado por maus espíritos em um outro mundo, escuro e sombrio.  Assisti ao filme por indicação de uma amiga da minha irmã que o descreveu como o filme mais assustador que ela já tinha visto. Aqui em casa as opiniões se dividiram: enquanto a minha irmã não viu muita graça, eu gostei bastante. O filme é um equilíbrio perfeito entre uma história com bastante suspense e cenas assustadoras.

        2. Ringu (1998)
        Essa história todo mundo conhece. Fala sobre uma repórter que decide investigar a morte misteriosa de sua sobrinha e acaba ouvindo a respeito de uma lenda sobre uma fita de vídeo. A repórter então vai em busca da fita e, ao assistí-la e descobrir que tem exatos sete dias de vida, busca a ajuda de seu ex-marido para acabar com a maldição e salvar a sua vida. Ringu é um filme de terror japonês de 1998, baseado no livro de mesmo nome escrito por Koji Suzuki - história que também serviu de inspiração para o remake norte-americano The Ring (O Chamado), em 2002. Confesso que quando assisti a versão norte-americana, achei o filme fraco e nada assustador. Recentemente, quando fui assistir Ringu a única coisa que eu me lembrava da história era a menina do poço (hahaha), então foi bacana assisti-lo sem sequer lembrar do final. Gostei bastante.

        3. Haunted Changi (2010) 
        Haunted Changi é sobre um grupo de quatro amigos que decide fazer um documentário em um dos locais mais assombrados do mundo: o Hospital Changi, localizado em Cingapura. O local era, originalmente, um quartel britânico, mas foi ocupado por japoneses durante a Segunda Guerra Mundial e utilizado como um espaço para torturas e execuções de chineses, malaios e indianos. Nos anos 50, o antigo quartel foi transformado em hospital público, mas foi dado como assombrado pelo público com o passar dos anos, com testemunhas que alegavam ter visto fantasmas de soldados japoneses. Muitas pessoas preferiam morrer a serem socorridas neste hospital. O hospital foi fechado em 1997 e permanece abandonado. Como a lenda em torno do hospital e, o próprio hospital, claro, são verdades (quero dizer que não foram inventadas para a realização do filme), vale a pena assistir ao filme. A forma como a história dos quatro amigos foi contada acabou sendo um pouco chata porque nada de muito interessante ocorreu no filme, o único momento de real tensão foi o final.

        4. Noroi: the curse (2005)
        Um documentarista resolve investigar incidentes paranormais e descobre que um antigo demônio é o responsável pelos desaparecimentos e acontecimentos bizarros. A história do filme é muito boa, fiquei presa do início ao fim às buscas das explicações para os acontecimentos. O ponto negativo é que alguns personagens, de tão bizarros, acabam sendo meio toscos. E, pra quem gosta das cenas de terror, essas só começam a acontecer no final do filme (dão mais nojo do que medo) - a maior parte dele é de investigações. Noroi: the curse e Haunted Changi são do tipo A Bruxa de Blair - aquele fingimento de que um documentário está realmente sendo feito (eu adoro!). Alguém sabe como se chamam esses filmes?

        Fiquem com o trailer legendado de Insidious:


        20.9.11

        Cinema: cientistas, aliens e cowboys


        Antes de começar, queria dizer que este é um blog pessoal. Não sou nenhuma crítica de cinema, sou uma blogueira dando opinião, então o texto é bastante informal. Caso tenham críticas construtivas a fazer sobre formas bacanas de comentar filmes, eu aceito, então, não deixem de comentar. Bom, vou falar sobre os três últimos filmes que assisti nas telonas: Planeta dos Macacos: A Origem, O Homem do Futuro e Cowboys e Aliens.

        1. Planeta dos Macacos: A Origem
        Eu não assisti aos anteriores e fui ao cinema praticamente sem saber do que se tratava, apenas influenciada pelas boas críticas. O filme conta a história de um cientista (interpretado por James Franco) que ao procurar a cura para o Mal de Alzheimer acaba criando uma espécie de vacina que, quando testada em macacos, aumenta o QI dos mesmos. Realmente o trabalho do ator Andy Serkis - que por meio da técnica de captura de movimentos deu vida ao macaco Caesar  - deve ser tão elogiado quanto tem sido em todas as críticas que eu li sobre o filme (vale dizer que ele também interpretou os personagens Gollum e King Kong). Bom, sendo classificado como um filme de ação/aventura, definitivamente, Planeta dos Macacos: A Origem não é o tipo de filme que me agrada. Reconheço que não seja um filme de má qualidade: além dos ótimos efeitos para a criação dos macacos, a história deixa uma reflexão interessante a respeito do uso de animais em testes científicos e também chama atenção para a dominação humana sobre os animais. Mas não achei a história muito rica ou mesmo emocionante, contrariando o que tem sido dito por aí.

        2. O Homem do Futuro
        Acabei vendo O Homem do Futuro num dia em que o professor faltou e o pessoal da faculdade resolveu aproveitar o tempo vago para ir ao cinema. Sendo assim, devo dizer que o filme não estava na minha lista de filmes para assistir (diferentemente de Planeta dos Macacos) pois, preciso dizer, o cartaz me deu uma impressão de ser só mais uma cópia brasileira das comédias românticas norte-americanas. O Homem do Futuro é a história de um cientista (de novo cientista! :D), interpretado pelo Wagner Moura, que ao tentar criar um acelerador de partículas acaba criando uma espécie de máquina do tempo que o permite voltar ao passado e ter a chance de alterar uma humilhação sofrida na época da faculdade - humilhação que envolve a garota pela qual foi e ainda é apaixonado. Não é uma das histórias mais criativas, mas também convenhamos que em nenhum momento o filme foi divulgado com essa proposta. É um filme que distrai. Embora eu goste dos clichês das comédias românticas, esse filme não entrou pros meus favoritos do gênero.

        3. Cowboys e Aliens
        O último filme que assisti no cinema foi Cowboys e Aliens, um filme de ação/ficção, que começa mostrando um homem, chamado Jake Lonergan (Daniel Craig), que acorda sem memória e com um inexplicável bracelete em seu pulso. Ao chegar a cidade de Absolution, comandada pelo coronel Dolarhyde (Harrison Ford), Jake descobre ser um criminoso procurado. Porém, quando a cidade é ataca por aliens, seu bracelete mostra utilidade na luta contra os monstros do espaço, enquanto Jake busca relembrar a sua história. Quanto a esse filme, preciso dizer que todas as cenas engraçadas me pareceram um pouco machistas. Em uma delas, quando Ella (Olivia Wilde) pede para entrar na luta contra os aliens, o cowboy (e agora eu não lembro exatamente qual deles, mas imagino que tenha sido o coronel) responde “Já temos cachorro e criança, por que não uma mulher?”, momento em que o cinema inteiro caiu na gargalhada. Nesse aspecto o filme me incomodou um pouco, mas assim como O Homem do Futuro eu diria que é um filme que distrai e apenas isso.

        Dos filmes assistidos, eu diria que o único que realmente vale a pena ser assistido nas telonas é o Planeta dos Macacos (caso você goste de filmes de ação, o que não é o meu caso!), pelos efeitos especiais e até mesmo pela reflexão deixada, cujo tema eu considero bastante importante e atual. Os outros dois acabaram sendo filmes com cara de Sessão da Tarde. Aqueles filmes que não fazem diferença se assistidos dublados ou legendados e que você pode ver enquanto destina a sua atenção a outras tarefas e assuntos e sente o cheirinho do café da tarde invadindo a sala. Para quem tem a sorte de estar em casa a essa hora, provavelmente fazendo a lição de casa, como era nos meus tempos de escola, onde eu via os filmes da tarde fazendo o dever. Bons tempos...

        15.9.11

        Hilary Duff na Bienal


        Hilary Duff é cantora, atriz e agora escritora. Começou a carreira atuando em uma série de TV chamada “True Women” e no filme “Gasparzinho e Wendy”, de 1998. Porém, sua carreira começou a ganhar destaque quando foi escolhida para interpretar a Lizzie McGuire no seriado da Disney de mesmo nome, que lhe rendeu o filme “Lizzie McGuire - Um sonho de popstar” e um álbum de natal, todos lançados em 2003. Ainda nesse mesmo ano iniciou sua carreira como cantora pop lançando o álbum “Metamorphosis” (eu pedi de natal assim que soube do lançamento). A partir daí muitos outros filmes e álbuns foram lançados. Filmes como "Doze é demais", “A nova Cinderela” e “Na trilha da fama” e álbuns como “Hilary Duff”, “Most Wanted” e “Dignity” - este último em 2007. Em 2008, ela veio ao Brasil para um show da sua turnê do álbum “Dignity” e, é claro, eu estive lá. 


        Desde então, Hilary participou de algumas séries para TV e atuou em mais filmes. Em 2010, deu início a sua carreira como escritora com o livro “Elixir” (que chegou ao Brasil agora em 2011). O livro - best seller do The New York Times - conta a história de uma jovem fotojornalista chamada Clea Raymond que, após o desaparecimento do pai começa a perceber imagens obscuras em suas fotos, que revelam a imagem de um  homem desconhecido. Ao falar sobre o seu livro, Hilary admitiu sempre ter tido a vontade de descontrair as pessoas com um livro que trouxesse como protagonista uma personagem feminina forte e inspiradora.


        No dia 4 de setembro, Hilary participou da Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, falando sobre o seu livro numa palestra no espaço “Conexão Jovem” e posteriormente, autografando o livro para 300 sortudos que conseguiram senha. Trezentas senhas foram distribuídas as 10  horas, assim que a Bienal abriu, no estande da Editora iD.

        Cheguei lá antes mesmo de abrir, por volta de nove e meia e me surpreendi com o número de pessoas que estavam na mesma expectativa; pessoas que vieram de outros estados, pessoas que chegaram as seis horas da manhã. Quando as portas abriram e eu cheguei (correndo, claro) ao estande da editora, logo percebi que pela minha localização na fila não teria a menor chance de conseguir uma das 300 senhas distribuídas. Havia, pelo menos, cerca de mil pessoas com a mesma intenção. 

         Foto tirada pela própria Hilary e postada em seu twitter.

        Mesmo após ter sido anunciado que as senhas acabaram, eu não desisti. Estava ali com o único propósito de conhecer aquela da qual sou fã há dez anos, alguém que me ensinou - com seus filmes e músicas e com toda a trajetória da sua carreira - que nós não precisamos ser mais do que ninguém, apenas nós mesmos (sim, aquele super clichê que todo pré-adolescente adora). Pra mim a Hilary é um exemplo, uma pessoa que me inspira em todos os aspectos - o seu comportamento, o seu estilo, sua personalidade. Eu precisava tirar uma foto com ela, conseguir um livro autografado.

        Após ficar horas andando pelo evento vendo se alguém poderia me dar ou vender a senha, decidi ir para o estande da editora onde ela autografaria os livros e me contentar em apenas vê-la de longe. Após algumas horas ali garantindo o meu lugar na grade, uma organizadora avisou que a Hilary daria os autógrafos dentro do auditório onde havia sido realizada sua palestra, a fim de evitar maiores tumultos. Já sem esperanças e muito cansada por ter passado um dia inteiro andando pra lá e pra cá atrás de senhas, de ter levado um tombo no meio da multidão e ter sido pisada por uma tropa de fãs que corriam atrás da sua amada celebridade, fui até a porta do auditório e continuei a minha saga atrás de senhas.

        Eu tinha conseguido comprar o último dos 300 primeiros livros, que vinham com um pingente e tentava convencer o organizador de que isso deveria servir para alguma coisa, embora eu soubesse que não serviria. A sessão de autógrafos começou, a fila andava lentamente. Foi então que eu decidi ir embora, mas não sem antes dar uma olhada despretensiosa num estande localizado exatamente em frente ao auditório. Foi nesse estande, enquanto eu olhava livros de culinária, que eu ouvi a menina falar para a mãe que não estava a fim de enfrentar aquela fila gigantesca para conseguir um autógrafo. Ela estava cansada e não era muito fã, então não via motivos para fazer aquilo. Nem sei descrever o que passou pela minha cabeça naquele momento, simplesmente pedi a senha e comentei que tinha gente tentando vender por R$ 500. A menina, sem pensar duas vezes, me deu a senha dela, de nº 33 e a mãe falou que jamais iria vender algo que conseguiu de graça.

        E foi assim que eu acabei fazendo parte do último grupo - com cerca de 10 fãs - que entrou no auditório para conhecê-la. A menina da frente me contava que havia sido a número 301 azar e também conseguiu a senha no último momento sorte. A menina atrás de mim pedia para que eu a ensinasse a falar algumas coisas em inglês. Me senti uma criança num parque de diversões, que espera na fila para o brinquedo, enquanto a sua mãe a observa do lado de fora. Segurava o meu livro com toda a força contra o peito a ponto de meus dedos marcarem a capa. Pensava na sorte que eu havia tido. As pernas já não doíam mais.

        A Hilary - aquela que estava na mesa dando autógrafos - é igual a Hilary dos filmes que eu cresci vendo. Igual a das séries, a das músicas. Igual a do show. Absurdamente linda. Simpática. Autografou o meu livro. Pedi que ela autografasse uma outra amostrinha menor de seu livro que eu trazia no bolso. Para a minha irmã, eu disse. Ela perguntou o nome dela. “Let’s take a picture!”, ela disse. E eis a nossa foto. 

        Minha cara após 10 horas correndo atrás de senhas.

        Ela, exuberante. Eu, nervosa, cansada e feliz. Consegui o último livro dos trezentos com o pingente. Consegui, nos últimos momentos, a senha. O autógrafo. A foto. Consegui tudo.

        25.7.11

        Cinema e memória: La noche de los lápices

        Eu adoro filmes baseados em fatos reais (quando era criança adorava assistir um filme sobre o resgate de uma menina que tinha caído em um poço e um outro sobre estudantes que sofriam um acidente de ônibus voltando de algum passeio escolar; não lembro o nome desses filmes, mas lembro que era só saber que era baseado em fatos reais que eu sentava para assistir). Talvez contraditoriamente, detesto ver cenas de violência/tortura, sejam elas referentes à um fato real ou não. Em alguma outra vida devo ter passado pelo mesmo tratamento que o Alex DeLarge em Laranja Mecânica, porque fico bastante enjoada com qualquer cena de violência.

        Precisei apresentar um seminário sobre "cinema na América Latina" e justamente a parte que eu deveria falar era a dos filmes realizados sobre as ditaduras militares. Como fiquei encarregada de falar sobre filmes que certamente me dariam enjoo, escolhi assistir apenas um de uma lista com cerca de dez filmes. O escolhido foi o argentino “La noche de los lápices” de 1986, dirigido por Hector Oliveira. Assisti pelo youtube mesmo, sem legendas e pronta para pular as cenas violentas. Acontece que mesmo num espanhol rápido e muitas vezes incompreensível e passando rapidamente as cenas de tortura, o filme conseguiu me prender de tal forma que passei o dia inteiro meio por fora do que acontecia à minha volta.


        “La noche de los lápices” conta a história da noite de 16 de setembro de 1976, quando sete estudantes (inclusive menores de idade) foram sequestrados, durante a ditadura militar argentina, por estarem envolvidos com o movimento estudantil. Considero o filme interessante para a memória da época porque mostra a importância dos estudantes como força de resistência às ditaduras latinoamericanas e ao mesmo tempo mostra o que mais mexe comigo no que diz respeito à todos esses estudantes: a inocência.

        Algumas cenas me chamaram atenção. Primeiro, o discurso feito nas escolas no qual as autoridades diziam que os colégios nunca mais seriam âmbito para a propagação de ideias atéias e anti-nacionais. O filme também mostra um padre dando a extrema unção à prisioneiros que seriam executados retratando o apoio da Igreja Católica.

        Além disso, o filme mostra a busca das mães pelos seus filhos desaparecidos durante a ditadura e o descaso das autoridades em relação à elas. Eu simplesmente não havia parado para pensar que muitas crianças, filhas de pais tidos como subversivos - o que, na Doutrina de Segurança Nacional era considerado terrorismo -, foram colocadas para adoção e criadas por outras famílias, então as mães com filhos desaparecidos não são apenas aquelas cujos próprios filhos foram tidos como inimigos do governo, mas também quando os pais eram considerados “terroristas”.

        Esses estudantes tiveram suas casas invadidas enquanto dormiam, seus bens foram destruídos, eles foram levados para longe da família e torturados A cena do sequestro mostra bem isso. Como já disse, esses filmes por mais interessantes que sejam - e eu acho que vale a pena assistir -, causam mal estar. Acredito que esse mal estar é necessário, para que deixe vivo na memória um fato que infelizmente é ponto em comum dos países latinoamericanos. E, uma vez estando vivo na memória, isso acabe contribuindo para que não seja permitido que tal fato se repita. Afinal, o governo se definia como uma democracia, pelo menos a ditadura brasileira não se anunciava como ditadura, pelo que sei. E, mesmo com o fim da ditadura militar, não vejo democracia como um termo palpável.

        22.6.11

        Uma piada nunca é só uma piada



        Há certo tempo, vi uma entrevista com o Danilo Gentili, no programa “De frente com Gabi” (no youtube a data é referente à abril desse ano), onde ele dizia que a piada foi a forma que ele encontrou de dizer verdades. Todo mundo conhece e pratica essa coisa de dizer verdades brincando porque é uma forma de deixar no ar um ponto a ser pensado sem gerar todo o constrangimento que uma verdade pura traz. Acho que o simples fato de dizer que o humor é uma forma talvez mais amistosa de falar verdades já é admitir que uma piada nunca é apenas uma piada e que achar graça nela ou não também não é algo tão inocente quanto parece - ainda que seja espontâneo.

        Em outra ocasião (essa mais antiga), Oscar Filho foi fazer uma matéria na Pet Fashion Week. É claro que eles queriam tirar um sarro com essa história de artigos de luxo para animais. Ao entrevistar Luisa Mell, Oscar Filho fez uma piada daquelas típicas de comerciais de cerveja (onde os homens são retratados como grandes babacas, convenhamos): “Sabe aquela máxima: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come? Se isso acontecesse agora você iria preferir ser pega ou ser comida?”. Até aí não estava acontecendo nada de muito diferente do habitual. Até que o entrevistador decidiu fazer mais uma piada “Uma vez eu peguei meu gato e coloquei dentro da geladeira. Isso é maldade?” Quando Luisa Mell o questiona sobre a veracidade do fato, o entrevistador insiste e diz que realmente cometeu tal ato. Então, ela simplesmente fala: “Você não pode falar isso na televisão, você sabe que tem gente que te assiste, vai achar que isso é verdade e vai fazer a mesma coisa.” Mesmo diante de uma resposta dessas, ele resolveu insistir. “Mas é verdade. Não é mentira. Eu estou falando sério.” e Luisa Mell dá a resposta que põe fim à matéria: “Então me dá o seu endereço em Atibaia que eu vou te denunciar.

        Em um Top Five, também antigo (segundo o link no youtube o programa é de maio de 2008), o CQC fez piada com o fato de Luisa Mell ter chorado em seu programa enquanto falava da conquista do estado de São Paulo a respeito da proibição da eutanásia em animais sadios. A apresentadora, defensora e ativista dos animais comentou o fato em seu blog: “Apesar de muitas pessoas aplaudirem essa vitória, para a minha surpresa Marcelo Tas e sua trupe "CQC" classificaram como inútil se preocupar com os animais.” E a gente não precisa nem ser muito inteligente para saber que quando Marcelo Tas e sua trupe classificam algo como inútil, grande parte dos seus telespectadores e claro, seguidores do twitter, também o farão. 

        Um fato mais recente que o da Luisa Mell é o da blogueira Lola, cujo blog eu leio há bastante tempo. Quem me apresentou o blog da Lola foi a Raiza, para que eu pudesse aprender mais sobre feminismo (lembro que eu estava buscando por informações sobre o tema e o blog da Lola realmente é bastante esclarecedor de uma forma nada cansativa). A questão é que a Lola fez um post - muito bacana, por sinal - criticando as piadas do CQC sobre a amamentação em público. E foi ameaçada de processo pelo Marcelo Tas que, pelo visto, adora falar dos outros (até dos seios), mas quando ele é o alvo parece não achar muita graça. Ao insinuar que apenas as mulheres consideradas bonitas deveriam amamentar em público, todo um pensamento machista está sendo ali exposto: o de que o corpo da mulher é apenas para satisfação do homem, desconsiderando que elas estejam alimentando seus filhos e que eles nada tenham a ver com isso. Ao expor esse machismo e tornar a atitude de amamentar em público uma piada a respeito da beleza ou não das mulheres que o fazem (dentro dos conceitos deles do que é belo, claro), eles estão, como disse Luisa Mell, influenciando um montão de gente que assiste ao programa e vê aqueles caras como uma espécie de porta-voz das suas opiniões, ainda que eles estejam dizendo verdades por meio de piadas, eles estão falando para todo um pessoal que concorda com eles. Um pessoal que vai rir de uma piada sobre estupro (inconscientemente culpando a vítima), vai rir de uma piada sobre amamentação em público (analisando a beleza das mulheres que o fazem e condenando as consideradas feias), um pessoal que vai rir de uma piada feita em cima da causa dos defensores dos animais (transformando em piada e categorizando como inútil uma luta tão importante).

        Ao transformar uma causa em piada, retira-se a credibilidade dela. Um comunicado importante se transforma em algo risível. Uma piada nunca é apenas uma piada, ela está aí pra reforçar valores que estão há muito tempo impregnados em nossa sociedade e tem uma galera muito bacana lutando contra esses valores simplesmente para que possam viver melhor e em paz. Certa vez eu li uma frase que julguei genial na Revista dos Vegetarianos : "É mais fácil perder o trono que perder o hábito. - disse o rei de Bourbon.” Eu, como feminista e defensora da causa animal, sei o quanto é difícil lutar contra um hábito - acho que essa palavra se aplica perfeitamente. Será mesmo que vale a pena proferir tantas besteiras e se justificar dizendo que "é só uma piada"? O "é só uma piada" não só não justifica como me parece uma atitude meio covarde de não se responsabilizar pelas próprias palavras e fingir não reconhecer estar reforçando preconceitos. Se com a piada eles tiram a credibilidade de uma causa, com a justificativa de que "é só uma piada" eles transformam em mal humoradas nós que reclamamos. Acho muito mais original uma piada que desconstrua esses valores tão arcaicos e traga realmente algo de novo. Aí sim o humor estaria sendo utilizado de uma forma realmente bacana. Porque sim, não somos pessoas de mal com a vida. Adoramos bom humor. O que entristece é ver que esse humor conservador e machista está longe de perder o trono. E humoristas conservadores e machistas estão longe de perder o hábito.

        16.6.11

        O novo blog


        Tenho blogs desde 2003. Adoro isso, embora eventualmente corte a relação. Esse espaço aqui é novo. Mas todo o resto é velho. Ou não. Puxa uma cadeira, pega um copo, bora falar mal dos outros. Só pra completar esse ciclo de despedida (do blog antigo) e renovação (com o blog novo). Mentira, tudo papo furado. Mas eu quero postar um texto bastante despretensioso e que me causa uma certa vergonha. Eu havia feito para o blog antigo, o "Meio Amargo".


        Cheiro de livro.
        Barulho de chuva.
        Cheiro de chuva.
        Fotos 3x4.
        Filmes ruins.
        Fotos ruins.
        Beliscar enquanto cozinha.
        Conversar de madrugada.
        Beliscar de madrugada.
        Falar com os olhos.
        Rir sozinha.
        Falar sozinha.
        Mãos dadas.
        Cervejas geladas.
        Mãos geladas.
        Dormir até tarde.
        Chorar ao colo de alguém.
        Dormir ao colo de alguém.
        Meio nostálgica.
        Mastigando o amargo.
        Meio amargo.

        Só porque o gosto meio amargo está aqui todos os dias. Certas vezes, acostumada com a presença habitual, eu simplesmente o ignoro. Inconscientemente o ignoro. Noutras, talvez pela ausência de outros sabores, ele se torne mais acentuado. Desagradável. Forte. Constante. Como se eu, subitamente, me desse conta de uma velha cicatriz e, somente por ter me dado conta, ela voltasse a doer.