15.5.21

ligando uma coisa à outra

 Este texto foi originalmente publicado no blog Em Quantos no dia 7 de maio de 2012.

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Não existe tema mais atual do que a tecnologia e o quanto ela influencia nossas vidas. Acredito que a gente esteja em um momento onde somos bombardeados com um novo modelo de qualquer coisa que parece vinda diretamente dos anos 3000 para 2012 até que no dia seguinte esse "novo modelo" é substituído por outro. E assim a publicidade nos faz querer um celular/uma câmera digital/um laptop novo a cada dia. O mesmo ocorre com os assuntos nas redes sociais: hoje estamos comentando exaustivamente o assassinato brutal de uma criança de classe média e amanhã só falamos sobre a mulher que matou um cachorro à pauladas. Mas não é sobre isso que eu quero falar. O que me levou a escrever esse texto foi um conceito (ou uma ideia, sei lá) muito associado à internet: links.

Você resolve pesquisar na internet uma crítica sobre um filme que você quer muito ver e prefere se certificar antes se ele tem sido elogiado ou não. No site da crítica sobre o filme tem um link para uma outra página que fala sobre o ator principal desse filme. Nessa página há o link para várias matérias sobre ele, uma delas aborda sua experiência numa clínica de reabilitação. Você decide ler sobre isso e ao lado dessa matéria aparece um destaque sobre uma mulher que fugiu da reabilitação pela porta da frente e daí você se direciona para um vídeo do YouTube que mostra o flagrante de uma câmera interna de um assassino fugindo da cadeia e daí pra uma matéria de um telejornal sobre a utilidade das câmeras internas e de câmeras internas você acaba lendo uma entrevista de um BBB falando sobre a experiência de usar o banheiro sendo filmado. Então você começou querendo apenas saber se o filme era bom e terminou sabendo que algumas pessoas simplesmente não se importam em cagar diante das câmeras.

Da internet pra vida: ligando uma coisa à outra. Fui assistir Titanic e notei que Jack e Rose eram opostos em estilos de vida (rica e pobre) e personalidade (triste e feliz), mas que eles tinham um ponto em comum: as artes. Jack desenhava, Rose apreciava pinturas. Ela aparece colocando obras de Picasso em seu quarto. Pensei que Picasso é muito famoso hoje em dia e que eu não saberia reconhecer suas obras. Cheguei em casa e resolvi pesquisar algo a respeito dele.

Descobri que o seu nome é imenso:
Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso. 

Que ele tinha cara de pintor mesmo:


E que eu me vejo em algumas obras suas:
Les deux saltimbanques, 1901

Women Running on the Beach, 1922


Alguns links são bacanas, né?

11.5.21

os mais narcísicos

Este texto foi publicado no dia 30 de abril de 2012, no blog Em Quantos. Eu sempre gostei muito da história de Narciso. Não lembrava da existência desse texto e não lembro quem era as pessoas nas quais eu estava pensando ao escrever o texto. Eu sei que nessa época eu estava em relacionamento MUITO ABUSIVO. Sequer achei este texto um bom texto, mas é, com certeza, um bom registro do meu passado. 

Publico a seguir, exatamente da mesma forma que o original.

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Esse é o meu primeiro post aqui. Espero que gostem.

Uma história que sempre me atraiu muito (e quando digo sempre, quero dizer "desde a minha infância") é a história de Narciso. Havia escrito sobre esse mito em um antigo blog, mas o texto se perdeu e como recentemente tenho andado às voltas com pessoas narcísicas e feridas narcísicas, resolvi escrever sobre ele aqui. Não desconsidero que todos somos narcísicos. Aliás, acho isso uma grande verdade. Mas também acho verdade que existem pessoas que  enxergam a si mesmas. Não quero me prender à mitologia em si, pois conheço várias versões, mas vou me arriscar a falar algo sobre.

Narciso era um rapaz muito belo e desejado por todas as mulheres, das quais ele desdenhava. Uma dessas mulheres acabou definhando, entristecida com a rejeição de Narciso. Narciso, então, foi condenado a se apaixonar pela única pessoa que ele jamais poderia possuir: ele mesmo. E foi assim que, ao ver seu reflexo na água, ele se apaixonou pela bela imagem e, tentando alcançá-la, acabou se atirando no lago e morrendo afogado. No lugar de seu corpo, teria nascido a flor chamada Narciso, envergada como o próprio, admirado com o seu reflexo. 


Se essa história possui falhas ou está muito simplificada, pouco importa. O que eu quero, na verdade, é atentar para as pessoas narcísicas com as quais temos que conviver. Pessoas ao nosso redor - e às vezes próximas demais - que pensam apenas nelas mesmas, submetendo os outros às suas vontades e vaidades. E quando digo vontades e vaidades, não limito-me apenas à questão da aparência. Quantas não são as pessoas que cobram tanto dos outros quando julgam algo importante e querem todo o tipo de atenção e comemoração para as suas conquistas, mas menosprezam ou simplesmente não enxergam o que é importante para o outro? Quantas vezes não nos esforçamos para agradar a alguém e não vemos nenhum tipo de esforço da pessoa nesse sentido? Não é fazer por interesse esperando algo em troca, mas se esforçar num relacionamento (qualquer tipo de relacionamento, por mais impessoal que possa ser - inclusive em um trabalho) e esperar o mesmo tipo de empenho do outro, pois relacionamentos não são construídos com esforços de uma pessoa só. Estou falando sobre a compreensão de que uma troca espontânea é necessária. O problema em conviver com pessoas muito narcísicas é acabar definhando, como a jovem apaixonada por Narciso, que tanto dedicou seu amor e admiração à ele, sem obter nenhum tipo de retorno. Toda relação é uma troca. Se não há troca, melhor não haver relação.