1.5.12

Titanic é o começo de tudo

Ela é rica. Ele é pobre. Ela tem as passagens para viajar na primeira classe do navio anunciado como "inafundável". Ele consegue as passagens para a terceira classe em cima da hora, em uma aposta. Ela se sente sufocada pela vida da elite e pelo noivado com Caledon, com quem precisa se casar para salvar sua família que está falida e apenas conta com o bom nome. Por isso, decide se matar. Ele acredita que a vida é uma dádiva e quer aproveitá-la. Opostos, como em toda (boa) história de amor. E essa história de amor se passa a bordo do Titanic, o transatlântico que se chocou com um iceberg na noite de 14 de abril de 1912, fato que levou ao seu naufrágio. 


Sendo opostos, Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet) possuem um delicioso ponto em comum nesse filme dirigido por James Cameron e que foi um grande vencedor do Oscar, gigantesco sucesso de 15 anos atrás. O ponto em comum está nas artes. Jack desenha mulheres que lhe chamam a atenção - uma prostituta sem uma perna mas com um grande senso de humor, uma senhora que usa todas as suas jóias e passa a noite num bar esperando pelo seu amor. Rose, nas primeiras cenas em que aparece, é vista colocando em seu quarto algumas obras de Picasso, contrariando o seu noivo que não vê naquelas obras nenhum tipo de valor. Rose acabará interessada nos desenhos de Jack e será desenhada por ele em um dos momentos mais bonitos de todo o filme, quando tudo o que ela veste é o colar chamado de "Coração do Oceano". Não por acaso, Rose dirá em outro momento que "o coração de uma mulher é um oceano de segredos".


O coração de Rose é um oceano de segredos e o vazio que ela sente em meio à primeira classe mexe com o espectador durante todo o filme. Ao mesmo tempo, a inocente alegria de Jack Dawson, misturada à um conhecimento das dificuldades da vida nos faz gostar muito do personagem. E o que Rose irá encontrar em Jack é justamente a vida. Sentir-se viva como a rotina em torno de sua mãe e de seu noivo jamais a teria feito se sentir. Quando Rose diz que Jack a salvou de todas as formas que uma mulher poderia ser salva, essa frase sintetiza toda a história de amor entre eles. Jack salvou a vida de Rose ao mesmo tempo em que ele lhe deu uma vida. E a vida que Jack dá a Rose é aquela que ela não tinha ao subir a bordo do Titanic. Um desastre em um navio com 2.200 pessoas, das quais apenas 700 conseguiram lugares nos botes. Mil e quinhentas enfrentariam o gelo do oceano. Em meio à isso, uma história de amor. Uma história de salvação.


Titanic é um filme sem igual. Temos a cena clássica e muito parodiada de Rose e Jack na proa do navio ou ainda a mão no vidro do carro embaçado. Tudo isso somado ao impacto das cenas da tragédia. Titanic, para mim, não é apenas um filme de grande sucesso, mas é uma obra que, indiretamente, iria determinar quem eu sou hoje. Se vocês não acham isso possível, pensem então que há 15 anos atrás minha irmã iria assistir esse filme e se encantar tanto com ele a ponto de voltar outras quatro vezes ao cinema para assistí-lo. Iria buscar todos os filmes do Leonardo DiCaprio. Ela estava então, sendo inserida no mundo do cinema. Daí, partiria para outros filmes, outros diretores, outras histórias, outros atores. E eu cresceria ouvindo sobre cinema, vendo os filmes que ela via, conhecendo um ou outro ator, gostando muito daquilo, sendo claramente influenciada, como toda irmã caçula que imita a mais velha. E eu acabaria, então, apaixonada por isso que chamamos de sétima arte. Titanic é uma tempestade de emoção e genialidade. E é em emoção e genialidade que eu penso quando digo amar cinema.