27.6.21

observações sobre Léo Áquilla

Este texto foi originalmente publicado no blog Em Quantos no dia 3 de setembro de 2012.

Léo Áquilla foi um dos participantes da quinta edição do reality show da Record, A Fazenda. Até então eu nunca havia escutado o seu nome - e também nunca havia assistido ao reality. Um breve comentário sobre o programa: É mais interessante e mais elaborado que o Big Brother ao envolver pessoas que vivem no meio artístico e exigir o cumprimento de tarefas com os animais e com a limpeza da casa e do local. Se alguém não cumpre uma tarefa, o grupo todo acaba levando punição. Mas não é do programa que quero falar, então, voltemos ao Léo Áquilla.

Léo Áquilla é uma drag queen. Como disse no programa: "Sou mulher do ano 2000: peito, bunda e piu piu." Tem dois filhos, um natural e um adotivo. E uma história interessante pra contar. E foi o que fez no programa.

Léo falou que apanhava todos os dias na escola, porque era nítido desde criança a sua homossexualidade e, como as demais crianças notavam, ele sofria com isso. Falou que gostar de homens e de se vestir como mulher nunca foi uma escolha sua e sim algo natural. Comentou que o fato de um programa de audiência num canal de TV aberta ter convidado uma travesti para participar do programa já mostra uma mudança de mentalidade nas pessoas. 


Dentro da casa, Léo comentou o fato de que nas suas entrevistas, durante o seu trabalho e os seus shows, ele é sempre muito divertido, animado, engraçado. E que as pessoas dentro da casa, ali no reality, estranhavam o fato dele nao ser assim no dia a dia. Ele explicava que uma coisa é a personagem dele e outra quem ele é como pessoa, e que as pessoas esperam que travestis sejam sempre pessoas que gostam de chamar atenção para si.

Quando criticada sobre a sua postura de "amar todo mundo" dentro do programa, ela disse que isso vem exatamente por ser como é. Isso criou nela uma cobrança extrema para sempre agradar as pessoas, para que as pessoas gostassem sempre dela, porque lógico, sempre esteve acostumada a não agradar. A ouvir todo tipo de besteira na rua. Ser desrespeitada, sofrer preconceito.

Por isso, Léo foi acusado de se fazer de vítima e contar histórias tristes para tentar ganhar o programa com o voto do público. Sobre isso, Léo disse "Mas se eu não falar isso sobre a minha vida, vou falar o que? Infelizmente são essas as histórias que eu tenho pra contar." Não acho que Léo se fez de vítima. Ele é vítima. Dizer que ele "se faz de", é se negar a ouvir uma triste realidade, admitir que ela existe e refletir. Respeito as pessoas que não gostam de reality shows, mas olha, acho o máximo a gente ligar a TV em um programa de grande audiência e poder ouvir isso.

OBS.: Léo Áquilla fez Silvinho se perguntar durante o programa o por que dela não ter adotado um nome feminino. Eu notei que às vezes Léo fala de si no masculino, às vezes no feminino. Fiz o mesmo durante esse texto.

12.6.21

para quem detesta ação

Este texto foi originalmente publicado no blog Em Quantos no dia 28 de maio de 2012.

"Plano de Fuga" começa com um bandido (Mel Gibson) fugindo da polícia dos EUA após roubar uma boa quantia em dinheiro. Na fuga, ele ultrapassa a fronteira e acaba sendo preso pelos policiais mexicanos. A quem pertence o dinheiro roubado e quem afinal é o personagem principal são algumas das questões do filme. 

O personagem, que fará todas as suas ações usando o nome do atual marido de sua ex-esposa, fica em um presídio chamado de "El Pueblito", que funciona como uma cidade de presidiários. Não demora muito para o personagem perceber que há uma hierarquia naquela "cidade", onde os próprios bandidos possuem armas e alguns tem acesso à um estilo de vida consideravelmente melhor do que outros. Quem vai ajudar o personagem de Mel Gibson a compreender melhor o local é um menino que vive ali com a sua mãe. 

O fato de que o menino é protegido pelos criminosos mais poderosos de "El Pueblito" é mais um dos mistérios do filme. Assim, o filme nos apresenta uma dupla onde um pode ajudar o outro e onde nós, espectadores, ficamos tentando desvendar todos os segredos da história. Mas, cuidado, o filme não é um suspense! É um filme de ação!

Eu não sou fã desse gênero e acabo detestando 90% dos filmes de ação que eu assisto, mas desse eu até gostei. Não digo que eu veria outras vezes, mas o que eu quero dizer é que eu consegui ficar envolvida pela história até o seu final - final que, aliás, não é imprevisível. As cenas de ação, lógico, contam com todas as "mentiras" das quais esses filmes usam e abusam. Vale dizer, para quem detesta ação como eu, que o filme valeu muito mais pela sua história e todos os pontos que precisam ser explicados e resolvidos do que pela pela ação. 

Também vale dizer que Mel Gibson é ator, produtor e roteirista do filme. E que embora o filme se passe dentro de um presídio mergulhado em corrupção, no México, com todo um visual que nos parece sincero, o objetivo desse filme está longe de ser mostrar a realidade.

4.6.21

a menina do copo

Este texto foi originalmente publicado no blog Em Quantos, em 14 de maio de 2012.

"Então, minha pequena Amélie... Você não tem ossos de vidro. Pode levar umas pancadas da vida."

Quem já viu "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" sabe o que o pintor diz a respeito da menina que está com o copo. Todo ano ele pinta um quadro desses e nunca consegue captar a essência da menina do copo. Ele diz que ela está ali, mas não parece estar. Tem um olhar perdido, indecifrável.



Estar ali e não estar é a história da minha vida.