29.2.12

Realidade e fantasia em "Hugo Cabret"

Quando assisti ao trailer de A invenção de Hugo Cabret tive a sensação de que o filme seria bastante fantasioso. Não deixa de ser, afinal, dá pra sentir toda a fantasia em suas cores e imagens em 3D e, claro, nas partes da história que fogem à realidade. Mas ele também é semelhante ao filme O Artista ao falar um pouco sobre o cinema através da história pessoal de um personagem. A diferença na abordagem está na escolha dos recursos utilizados para contar as histórias.

Hugo (interpretado por Asa Butterfield) é um menino de apenas 12 anos, que vive numa estação de trem em Paris, acertando os relógios da estação, dando continuidade ao trabalho que era feito pelo seu tio. A história do filme se dá em torno de uma máquina - uma espécie de robô chamada de autômato - que pertencia à seu pai e que possui uma fechadura em formato de coração. Buscando consertar o autômato, Hugo se envolve em uma história que vai além do que poderíamos imaginar, nos fazendo viajar entre a fantasia e a realidade.


Algumas cenas, sobretudo as cômicas, são um pouco exageradas, o que não me agradou muito. O mesmo acontece com a história de alguns personagens cujas vidas são mostradas através apenas de seus momentos trabalhando naquela estação. Nesse caso, falo principalmente sobre o personagem interpretado por Sacha Baron Cohen - eu nunca vejo muita graça nele, exatamente porque não gosto do seu tipo de humor espalhafatoso. Já os personagens que ganham mais destaque são adoráveis, sobretudo o próprio Hugo e sua amiga Isabelle (Chloe Moretz). A invenção de Hugo Cabret, dirigido por Martin Scorsese, é um filme que homenageia o cinema através da história de Georges Méliès. Méliès assistiu a primeira projeção de filme da história, feita pelos irmãos Lumière, e acabou por se tornar um dos precursores dos efeitos especiais no cinema. Para entender como o filme envolve um garoto que vive numa estação de trem, um autômato e Georges Méliès, só assistindo.

Tenho uma novidade bacana para contar. Agora faço parte da equipe do By Marina, o que é muito legal pra mim porque quando eu comecei a blogar em 2003 eu visitava bastante esse site em busca de templates e informações que me ajudaram a entender melhor esse mundinho. Mas o mais bacana mesmo é que eu estou lá falando sobre cinema, em especial sobre O Artista e A invenção de Hugo Cabret nesse post aqui!

28.2.12

Pra sair do cinema com vontade de sapatear

Se antigamente o cinema era mudo por ainda não existir tecnologia para a produção de filmes sonoros, hoje, optar por realizar um filme dentro do estilo antigo, mudo e em preto e branco, abrindo mão dos inúmeros recursos existentes, é um ato paradoxal, dado que é tão audacioso quanto simples. O Artista não é inteiramente mudo e faz uso do som (poucas vezes) de forma bastante interessante, transformando-o de maneira inteligente em um recurso para abordar o tema do filme, que trata exatamente da mudança do cinema mudo para o falado. O que eu mais gostei nisso tudo é que essa mudança é mostrada através da realidade de uma pessoa - um ator que experimentou a glória da fama até que, em virtude das mudanças no mundo cinematográfico, se viu tendo que abrir espaço para novos ídolos. E é justamente por contar essa parte da história do cinema por meio de um personagem e seus conflitos pessoais que o filme se torna simples, delicado e, principalmente, delicioso de acompanhar.


Além das maravilhosas interpretações de Jean Dujardin e Berenice Bejo, preciso comentar que o filme tem em seu elenco o ator Malcolm MacDowell (o Alex DeLarge de Laranja Mecânica), coisa que eu só fiquei sabendo quando vi seu nome escrito em letras grandes durante os primeiros minutos de filme.

Aos que - como eu! - ficaram com um pouco de receio de que o filme fosse cansativo ou chato, digo sinceramente que mal dá para perceber o tempo passar, pois somos facilmente envolvidos por cenas de dança e gracejos que nos fazem achar que o filme, grande vencedor da cerimônia do Oscar desse ano, é uma obra sem grandes pretensões. Realmente nos faz sair do cinema com vontade de sapatear.

22.2.12

Cinema: A Dama de Ferro


Eu já disse aqui que achei J. Edgar um filme muito bom e, quando o fiz, disse também que eu gosto desses filmes que focam na pessoa e não em seus feitos políticos, ainda que isso sempre tenha como resultado (e intenção) o enaltecimento de uma figura pública que não foi lá uma Madre Teresa (o “Madre Teresa” é só força de expressão, ok?). Foi assim em O Discurso do Rei (meu favorito dos indicados ao Oscar do ano passado) e foi assim em J. Edgar. A Dama de Ferro é mais um desses filmes e ele superou o meu até então favorito de 2012, J. Edgar (bom, o ano está só começando, olha eu me precipitando!). Mas foi complicado pensar no meu preferido, porque o filme com o Leonardo DiCaprio mostrou de uma forma sensível a homossexualidade do ex-diretor do FBI sem apelar para o romantismo, o que é ótimo visto que o filme se propõe a contar uma história real. Mas A Dama de Ferro também soube ser sensível, sem apelar para uma visão romântica.


Esses dois filmes tem muito em comum para mim. Para começar, os dois tem atores fantásticos em seus personagens principais: Leonardo DiCaprio e Meryl Streep (dois queridos <3). Os dois também usam do mesmo artifício para contar a história. No primeiro, um J. Edgar Hoover já idoso conta a sua história, misturando lembranças do passado e tempo presente. No outro, uma Margareth Thatcher idosa e doente, incapaz de superar a morte do marido, relembra a sua juventude e vida política. Nos dois filmes nos deparamos com uma história que intercala passado e presente. Além disso, os dois trazem conflitos pessoais interessantes. J. Edgar era homossexual e Margareth Thatcher, uma mulher buscando futuro numa carreira política, de domínio masculino.

Vejam bem, nem o J. Edgar (que eu só conheci pelo filme), nem a Margareth Thatcher são pessoas com as quais eu simpatizo, principalmente porque discordo de suas visões políticas. Margareth Thatcher, do Partido Conservador, teve um governo marcado pelas privatizações, pelo desemprego e pela forte reação contra os sindicatos. Uma figura política extremamente polêmica.


No filme, a Margareth Thatcher é mostrada como uma pessoa bastante decidida, que precisou enfrentar o preconceito dos homens e ganhar respeito como uma mulher que queria participação em um cenário de domínio masculino, a política (como eu já disse). É fácil notar na história o quanto sua ausência na vida familiar é criticada. Sendo uma mulher que rompeu com o papel de cuidar da casa e da família, Margareth Thatcher precisou encarar duras críticas em relação à isso, quando as críticas deveriam ficar no plano político. Aliás, o próprio filme parece criticá-la nesse ponto. Bom, o filme foi dirigido por Phyllida Lloyd (também diretora de Mamma Mia) e é muitíssimo bem feito. Segue abaixo o trailer, com legenda.


15.2.12

Coraline


Coraline, descobri após assistir ao filme, é uma animação baseada em um romance de Neil Gaiman. Queria ter assistido a esse filme no cinema porque ele me atrai em todos os aspectos: é uma história infantil, é animação e tem um ar meio gótico. Seu cartaz, assim como o filme todo, é simplesmente lindo e mágico. É uma animação dirigida por Henry Selick, mesmo diretor de O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993), filme produzido por Tim Burton (que eu adoro).


Bom, além dos aspectos que me fizeram querer ver esse filme, tem uma outra coisa que eu gostei bastante. Pelo olhar e pelos braços cruzados da menina no cartaz pode-se deduzir isso, mas eu só percebi realmente ao assistir ao filme. Coraline é uma personagem feminina com uma expressão que mistura a teimosia e a prepotência, é cheia de personalidade, criativa, inteligente e corajosa. Claro que nem sempre suas escolhas são as melhores, sua teimosia a leva a caminhos não muito bacanas, mas é exatamente isso que torna tudo mais interessante. É uma personagem geniosa, mas bondosa e eu adoro personagens femininas assim. Não gosto quando elas são frágeis e enjoadinhas, sempre precisando de proteção.


A história é a seguinte: Coraline vive com seus pais e os três acabam de se mudar para uma casa nova. Seus pais estão sempre muito ocupados e nunca podem dar atenção ou algum tipo de valor ao que a filha tem a dizer. Entediada e entristecida com a sua vida real, Coraline encontra uma passagem que a leva ao que inicialmente parece ser a vida perfeita - uma espécie de mundo paralelo onde seus pais são divertidos e lhe dão toda a atenção. Além disso, todas as outras coisas que a menina costuma reclamar em sua vida real são ajeitadas no mundo paralelo com a única intenção de agradar a menina. Desde o início, embora perfeito para a personagem principal, nós percebemos que esse mundo novo é bastante esquisito e causa um certo medo: todos lá tem olhos de botões. Aos poucos, essa vida sem defeitos vai se mostrando bastante perigosa. A história é criativa, surreal, fantástica. Coraline é uma personagem muito interessante. Adorei!

13.2.12

Cinema: J. Edgar


Leonardo DiCaprio é um dos meus atores favoritos. Duvido que exista um personagem que ele não possa fazer impecavelmente. Em J. Edgar não é diferente. Ele conseguiu passar toda a complexidade de um personagem que, em minha opinião, é muito difícil de interpretar - um homem inteligente e exigente, que pode ser mostrado como uma pessoa intragável ou como alguém que possui a sensibilidade aguçada. O que eu imagino que tenha tornado a interpretação difícil, foi justamente o fato de que o filme não segue apenas um aspecto de sua personalidade, mas mostra as múltiplas características presentes no ex-diretor do FBI. Isso ocorre pois - ao contrário do que eu pensei ao ler a sinopse - o filme inicialmente mostra a sua carreira e sua contribuição para a modernização da polícia americana, mas depois opta por focar em sua vida pessoal, que é muito mais emocionante.


Tenho um interesse especial por filmes que abordam a vida de personalidades que marcaram a História (positiva ou negativamente), especialmente quando o caminho optado é o de mostrar as particularidades da pessoa e não os seus feitos enquanto alguém relevante politicamente. Claro que o resultado é geralmente o de enaltecimento de alguém que não foi lá uma das pessoas mais bondosas que já passaram por esse mundo, mas ainda assim eu gosto de ver traços absolutamente humanos em quem estamos acostumados a ver - ironicamente - como personagens de filmes. Este foi o caso de O Discurso do Rei (já comentei aqui o quanto torci por ele no Oscar). Bom, J. Edgar segue a mesma linha e é, ao menos por enquanto, o melhor filme que assisti esse ano (ok, ainda estamos no segundo mês, mas eu realmente gostei do filme).

J. Edgar Hoover foi diretor do FBI de 1924 até 1972. A história mostra como, em 1920, coisas comuns hoje em dia, como não alterar a cena do crime ou identificar um criminoso pela sua digital, não eram valorizadas, o que torna Hoover alguém com uma visão bastante inovadora, que o fez modernizar as técnicas de investigação, adquirindo de forma impressionante dados de qualquer cidadão. O filme, dirigido por Clint Eastwood, também mostra o gosto de Hoover por cassar comunistas e sua insatisfação com o Nobel dado à Marthin Luther King.


A forma de intercalar as imagens do passado com o presente e as cenas que mostram a preocupação de Hoover com a aparência, exigindo que seus empregados estejam sempre bem vestidos e apresentáveis, são aspectos que mostram o quanto o filme é completo e bem feito. O relacionamento do personagem com a sua mãe revela a necessidade que ele sentia de agradar a mãe e o imenso amor que ela tinha por ele, o que é difícil de digerir, dado o seu preconceito com a homossexualidade do filho. Aliás, pela personalidade exigente de sua mãe podemos compreender muitos dos traços vistos em J. Edgar. Mas o relacionamento que mais emociona é o do então diretor do FBI com o Sr. Tolson, alguém que também prima pela boa aparência, mas um pouco mais maleável que Edgar. É a forma como este relacionamento é retratado que torna o filme tão especial.

J. Edgar e o Sr. Tolson

Preciso comentar o quanto eu acho esquisito quando eles fazem maquiagem para envelhecer os atores. Me dá vontade de rir (oi?). Uma coisa que eu pensava quando via os atores envelhecidos nesse filme era que estavam velhos demais, dado que quando são realmente velhos, eles são maquiados para que aquelas pintinhas que aparecem com a idade sejam cobertas e disfarçadas. Contradição (hehehe). Acho que só vejo atores tão envelhecidos na tela quando eles são maquiados com essa intenção.

Deixando a maquiagem de lado, J. Edgar é um filme que ficou injustamente fora do Oscar, pois tanto o filme como o ator principal mereciam indicação.

12.2.12

“Cada um tem a gêmea que merece”: Adam Sandler em dose dupla


Não sou a maior fã de comédias, talvez pelo fato de que as ache bastante parecidas. As piadas são feitas sempre em cima das mesmas questões e isso me dá preguiça de assistir, não apenas pelo fato de ser repetitivo (porque né, eu adoro comédias românticas), mas porque sempre acabam sendo exageradas e o exagero se torna constrangedor. Por exemplo, pensar em assistir a um filme com o Ben Stiller me dá uma certa agonia. Não gosto. Por outro lado, gosto do Adam Sandler. Comecei a conhecer o seu trabalho através do filme O Paizão, que eu adoro. Depois assisti outros também muito legais como Tratamento de Choque e Como se fosse a primeira vez. Já o último filme dele, Gente Grande, eu detestei. Bom, Cada um tem a gêmea que merece é melhor que Gente Grande, dessa vez eu consegui rir em algumas cenas. Mas também é constrangedor em alguns momentos.   

 
O Paizão e Como se fosse a primeira vez sabem ter os pontos mais exagerados do estilo de comédia do Adam Sandler, mas tem os seus momentos mais sentimentais. Já em Cada um tem a gêmea que merece, os momentos que eram para ser mais emocionantes, abordando a relação entre os irmãos e todo essa coisa da importância da família, simplesmente não funcionam. Sequer é possível gostar de Jack ou de Jill.

Jack e Jill (os dois interpretados por Adam Sandler) são gêmeos. Jack é um cara que se deu bem na vida e é retratado durante todo o filme como o rapaz normal, que não tinha grandes problemas em socializar na época de escola e fez tudo como manda o protocolo: casou, teve filhos, mora numa casa muito boa e tem dinheiro pra viajar num cruzeiro com todo o conforto e diversão. Jill é irritante, tem maus modos e vive solitária após a morte da mãe - aparentemente sua única amiga. Ela resolve passar o feriado de Ação de Graças na casa de Jack e, como toda visita mala, vai ficando por mais tempo. É ao longo desse tempo que vamos observando a relação entre os irmãos, onde Jack simplesmente não suporta a presença de Jill (eu também não suportaria), mas vai usar a irmã para tentar conseguir a participação de Al Pacino em um de seus comerciais e por achar que ela precisa mesmo é de um homem (ou seja, Jack também é detestável). 


Numa confusão onde até o Johnny Depp acaba participando (ele aparece usando uma camiseta do Justin Bieber e sua presença foi tão inesperada que eu fiquei em dúvida se era ele mesmo ali), eu consegui rir bastante em alguns momentos e em outros, dado que era sábado à noite, eu ficava na dúvida se estava no cinema ou em casa assistindo Zorra Total. Alguns pontos da comédia - a marca de suor que a irmã deixa na cama, as piadas de sempre em torno dos latinos-que-cruzaram-a-fronteira e os dois filhos de Jack com manias esquisitas - são forçados demais e não possuem graça alguma. Mas, embora também seja um ponto bastante comum nas comédias, preciso admitir que eu achei graça no Adam Sandler interpretando a Jill e na linguagem maluca dos irmãos.

Cada um tem a gêmea que merece passa longe dos filmes do Adam Sandler que eu gosto, mas vejam só uma coisa muito bacana que valeu a ida ao cinema: o trailer de Titanic que vai passar em 3D. Fiquei arrepiada vendo as cenas de um dos filmes mais marcantes da minha vida de novo na tela grandona, sendo que a última vez em que fiz isso eu era uma criança de oito anos. E vejam só que covardia: depois de ver Jack e Rose, Jack e Jill jamais poderiam conquistar mesmo, né?

CHOREI 3D

8.2.12

"Histórias Cruzadas", um drama leve e sem grandes comprometimentos


O trailer de Histórias Cruzadas mostra que o filme terá como assunto a vida de mulheres negras nos EUA da década de 60, sujeitas ao racismo e à violência da Ku Klux Klan. Mas o próprio colorido das imagens e a forma leve com que as cenas são mostradas deixam claro que essa triste realidade será apenas plano de fundo, enquanto a ênfase estará em dramas pessoais e na construção um tanto caricata das personagens. Um drama leve, eu diria. É uma história que traz para discussão o racismo, sobretudo o daquela época. Mas, arrisco dizer, um filme muito mais sobre o privilegiado do que sobre o oprimido. Um filme que torna o privilegiado, em muitos aspectos, desprezível. Mas que também se esforça em mostrar que nem todo privilegiado é opressor. Embora estes sejam minoria.


Baseado no livro A Resposta (The Help), de Kathryn Stockett, Histórias Cruzadas, dirigido por Tate Taylor, traz como personagem principal uma aspirante à escritora, Skeeter Phelan (Emma Stone). Skeeter é uma mulher branca que não se encaixa no padrão das demais mulheres brancas que a cercam - todas casadas, bem arrumadas e muito preocupadas com a opinião alheia. Intrigada com o que levou a mulher (negra) que a criou a ir embora de sua casa, Skeeter fica indignada com a vida que as babás e empregadas negras têm, submetidas aos preconceitos das famílias para as quais trabalham. Então, resolve coletar relatos delas e contar a história do ponto de vista das empregadas. Sempre fico interessada por histórias de pessoas que, por alguma razão, fogem do caminho que lhes é reservado. Pessoas que contestam, que refletem, que não se acomodam diante do que está errado pelo simples fato de que as coisas sempre foram assim e, logicamente, pelo fato de que não são elas as diretamente afetadas pelas “coisas como elas são”. Acho que isso fica bastante nítido na cena em que o rapaz com quem Skeeter estava se relacionando diz à ela: “Tudo está bem. Por que criar problemas?”. E ela responde: “Porque o problema já existe”.


Aibileen Clark (Viola Davis) é a primeira empregada a resolver dar seus depoimentos à Skeeter. Ela costumava escrever em um caderno suas orações e resolveu também escrever suas experiências como empregada. Minny Jackson (Octavia Spencer) é outra empregada que ganha destaque na história, com um comportamento mais atrevido. Minha personagem favorita, no entanto, é Celia Foote (Jessica Chastain). Suas primeiras aparições no filme dão a impressão de que ela será mais uma responsável pelas constrangedoras cenas de racismo e humilhação. Mas Celia é de derreter o coração. Para mim é impossível resistir a uma personagem que engana pela aparência, ou seja, que também mexe com os nossos preconceitos. É mais fácil ser uma Skeeter, que em nada se parece com as demais mulheres da história, do que ser Celia Foote. Preocupada com a aparência e com a opinião do marido, em muito se parece com as mulheres racistas retratadas na história. Mas ela é diferente.

Celia Foote, minha personagem favorita :)

Um ponto que muito me incomodou no filme foi o fato de que a maioria das personagens são mulheres. Considerando que isso é algo raro, era para ser um aspecto bom. O que tem de ruim então? Os homens se ausentam do problema. Nenhum personagem masculino aparece tempo suficiente para se que possa delinear alguma personalidade. Os homens não aparecem sendo boas pessoas, mas também não vêm deles as atitudes mais nojentas e odiosas do filme. Eles não são os responsáveis por dizer “sim” ou “não” às empregadas. Eles não vigiam se as empregadas estão realmente usando o banheiro destinado à elas ou o dos brancos. Eles não mandam elas embora. E a responsabilidade pela indiferença dada às crianças é da mãe e não do pai. No melhor estilo “isso é briga de mulher”, eles ficam de fora, deixando a impressão que o drama das babás negras na década de 60 foi resultado de uma briguinha entre mulheres no melhor estilo Meninas Malvadas (Mean Girls), onde Hilly Holbrook seria uma espécie de Regina George dos anos 60. A diferença é que não estamos falando de briguinhas na escola e sim de preconceito racial.

As Mean Girls dos anos 60

Falando em Hilly Holbrook, ela é detestável. Mas confesso que enquanto Minny revelava sua vingança e todo o cinema caía na gargalhada, eu era a cara da descrença. O pior é que, a partir da revelação, o filme insiste nessa mesma tecla como algo engraçado e eu simplesmente não vi graça. Para mim, um momento constrangedor e nada divertido. Em outros momentos o filme é realmente engraçado. Às vezes, emocionante. Mas, sinceramente, achei muito mais um drama leve e ficcional do que um filme comprometido com a realidade e a reflexão. O que também é válido e, creio eu, estava claro no trailer. O que eu gostei em Histórias Cruzadas e em Os descendentes, é que eles misturaram a comédia e o drama, deixando o filme levinho de assistir, mas sem deixar de emocionar. Ainda assim, entre os dois, eu prefiro Os descendentes.

7.2.12

Cinema: Os descendentes


Adoro esse clima de Oscar chegando, um monte de filmes bacanas em cartaz. Dá vontade de ver todos e fica difícil decidir entre um deles. Ano passado, eu amei O Discurso do Rei e torci muito para que ele ganhasse o Oscar de melhor filme. Achei merecido. Foi meu favorito, sem dúvida. Mas vamos ao Oscar desse ano. Ouvi algumas definições para Os descendentes que pareciam colocar o filme na categoria de alternativo, indie, cult... (eu, sinceramente, ainda preciso assimilar a diferença entre elas, mas isso não vem ao caso). Enfim, algo no melhor estilo Juno, creio. Não achei nada disso. O filme é bastante comum, com um drama que muitas vezes parece coisa de novela das oito, o que não quer dizer que eu não tenha gostado do filme. Eu amei. Se o seu drama é, em diversos momentos, previsível, a forma como a história é levada e as peculiaridades dos personagens o torna bastante especial. 


Tantas críticas positivas a respeito da atuação de George Clooney, fizeram com que eu desse menos credibilidade. Acontece que às vezes eu crio muita expectativa e me decepciono, então nesse caso eu desconsiderei os elogios. Bom... Após assistir ao filme, pude constatar que todos os elogios se mostraram verdadeiros. Eu gostei muito de seu personagem, talvez não como pessoa, mas como um pai perdido que não sabe o que fazer com as filhas jovens enquanto a esposa se encontra em coma no hospital. Mas de tudo mesmo, a cena do filme que vale a indicação ao Oscar de melhor ator, é o momento de sua corridinha desesperada, sufocado por tantos problemas. Quem assistiu ao filme sabe do que eu estou falando.

Tudo o que eu vou falar está no trailer, então não acredito que seja spoiler. O personagem principal, Matt King (George Clooney) é descendente de uma espécie de realeza havaiana e age diferente de seus parentes, que gastam o dinheiro herdado enquanto ele procura poupar (mas lógico, leva uma vida bem confortável). A família está para vender um terreno e ele também é parte dessa decisão. Junto à essa história, encontra-se o drama central do filme: sua mulher está em coma no hospital após sofrer um acidente durante um passeio de barco e Matt precisa estar perto das filhas, sendo que sempre foi ausente na vida delas. As duas meninas estão em fase de mudança na vida. A mais nova está entrando na pré-adolescência e começa a se comportar mal após a tragédia com a sua mãe, enquanto a mais velha é uma adolescente rebelde cometendo os exageros de quem acha que é adulta. E é através da adolescente rebelde que ele descobre que sua mulher o traía. A partir daí o filme começa a se desenvolver de uma forma que mistura o drama e a comédia. 


A mensagem do filme para mim é bastante simples: Ninguém é santa só porque está morrendo. Mas ninguém é o demônio só por ter errado. Errar não tira o valor de uma pessoa. Ao descobrir o erro de sua mulher enquanto ela está, inevitavelmente, morrendo, o personagem se vê nessa contradição entre a importância que ela tem em sua vida e a raiva que ele sente naquele momento. E a gente quase acha que é errado pensar coisas negativas de alguém que se encontra em tal situação. Ora, somos todos humanos (seja lá o que isso quer dizer). Saí do cinema pensando: família é isso aí mesmo. Nada muito romântico.