Um dos meus livros favoritos chama-se “A história de Despereaux”, de Kate DiCamillo. É a história de um camundongo chamado Despereaux Tilling, que não se ajusta aos costumes dos outros camundongos, é apaixonado por música e acaba também se apaixonando pela princesa do castelo em que vive, a princesa Ervilha. Logicamente, é uma história infantil, daquelas pra adulto nenhum botar defeito. Eu sou declaradamente apaixonada por histórias infantis, mas principalmente por histórias de desajustados, que não se comportam da forma esperada, que não se encaixam e buscam um outro destino - histórias contadas de maneira simples e sensível. “A história de Despereaux” é assim, um ratinho cujo nome lhe foi dado para representar o desespero do lugar em que vivia, mas que via além dali.
Leitor, você deve saber que um destino interessante (algumas vezes envolvendo ratos, outras não) sempre aguarda todo o mundo, camundongo ou gente, que não se ajusta.
Kate DiCamillo, A história de Depereaux, capítulo três
Leitor, você deve saber que um destino interessante (algumas vezes envolvendo ratos, outras não) sempre aguarda todo o mundo, camundongo ou gente, que não se ajusta.
Kate DiCamillo, A história de Depereaux, capítulo três
O livro acaba por se transformar numa espécie de conto de fadas imprevisível, meio torto. O carinho que tenho por ele vem da mensagem que ele deixa sobre a capacidade que as histórias tem de nos trazer um pouco de luz ("a luz é preciosa em um mundo tão escuro"). Eu me identifico pelo fato de ter sempre me sentido meio por fora, nunca ter me encaixado, e também pelo fato de ter encontrado nos livros e filmes uma espécie de refúgio que logo se transformaria em uma paixão na minha vida.
Mas não é apenas para falar de um de meus livros favoritos que comecei a escrever. Também quero falar de um filme que vi há pouco tempo: “O Palhaço”. Esse filme conta a história de Benjamin, um sujeito sem identidade, CPF e comprovante de residência que junto com o seu pai forma a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Desde a falta de documentos até o seu trabalho como palhaço, Benjamin definitivamente é um desajustado. O filme é sensível e simples, para utilizar as mesmas palavras do início do post. Gostoso de assistir, com uma atuação belíssima e uma história sobre gente que não se ajusta. E que faz a gente ver que não se ajustar talvez seja a grande graça nisso tudo.