[Data original do texto: 09/07/2017]
Este texto contém spoilers.
Não assisti Gossip Girl no período em que a série foi ao ar e, sinceramente, foi uma surpresa saber que a série acabou em 2012, pois achei relativamente recente. Pra mim, GG tinha acabado há mais tempo. Também não sabia mais da série além da história de que a Serena, a it girl local, tinha voltado após um período sumida e que isso ameaçava de alguma forma a Blair, que era também sua amiga. Os outros personagens além de Blair e Serena e demais detalhes foram todos novos pra mim. O que eu achei ótimo.
Uma coisa que me aborreceu a respeito dessa série é que a história em si é bem boa (nunca li os livros, ok?) e poderia ter rumos tão mais interessantes, mas manteve-se rasa e repetitiva ao longo das seis temporadas. A ideia do blog comandado por uma pessoa anônima que acaba por receber informações dos outros pra alimentar seu conteúdo, a família do Brooklyn com os filhos sendo educados numa escola de elite, o Dan como outsider e a Jen se esforçando pra ser incluída (e sabendo jogar o jogo, sem ser uma coitada), o conflito de amizade e rivalidade da Blair e Serena, os adultos hipócritas, o fato de que a história se passa (inicialmente) no ensino médio... Céus, tudo isso me pareceu muito bom. Mas foi conduzido de uma forma muito ruim.
Quando digo rasa penso nos personagens que não crescem ao longo da série. Eles começam no início do ensino médio e ao final da série estão empregados e casando (a faculdade se perde durante a história, eles frequentam durante uma temporada e depois isso é deixado de lado), mas eles simplesmente não crescem de forma alguma, os comportamentos que tem na primeira temporada são os mesmos da última e suas vidas giram em torno das mesmas questões. Quando eu penso isso, eu lembro de Friends (uma série ótima, vale dizer) onde a única personagem que eu vi crescer foi a Rachel. Ela era aquela patricinha bancada pelo pai, que ia casar com um cara rico e ter um futuro certo, mas abandonou tudo isso e foi morar sozinha, trabalhando como garçonete e depois construiu sua carreira na área que queria, a de moda. E a gente vê uma diferença entre a Rachel do início da série e a Rachel do final, entendem? Se em Friends esse crescimento só acontece com a Rachel, em GG não acontece com ninguém.
Também penso em rasa quando penso a própria questão da Gossip Girl. Por vezes ela mais parece narradora da história do que um elemento relevante no desenrolar das coisas. Ao final da série, os dramas em torno do malvado pai do Chuck e de seu relacionamento com a Blair ofuscam o mistério sobre quem é a Gossip Girl e essa questão sequer tem peso sobre o espectador durante as temporadas. A GG deveria ter muito mais capacidade de intervenção na história pra sua identidade se tornar algo realmente relevante.
Sobre ser repetitiva, a gente pode pensar na quantidade de vezes em que a Georgina volta para a série e é mandada para longe. Ou a Jenny Humphrey, que se deslumbra querendo fazer parte do universo da elite e passa por cima dos outros pra isso e depois se redime e recupera os valores da sua família, pra então se deslumbrar de novo. E Serena, que começa a série voltando de um sumiço e viaja pra longe tantas outras vezes para se reconstruir. Também o Nate, sempre se envolvendo com uma mulher que não é quem diz ser. A sensação é de assistir as mesmas coisas várias vezes. Testa a nossa paciência. Até ressuscitar o Bart eles ressuscitam e a Lily retorna à mesma história do início da série, para então ficar viúva de novo! Do mesmo cara! É o auge da repetição.
A gente perde personagens que podiam ser mais complexas, como a Jenny, a Vanessa e o Eric. A Little J sai da série ainda perdida nos seus ciclos de rebeldia e redenção e quando reaparece em um ou outro episódio é metida nas mesmas ladainhas. Lamentei muito pela personagem pois na primeira temporada ela tinha muita força, antes mesmo da Blair sobressair. O Eric começa num drama de tentativa de suicídio que fica esquecido ao longo dos episódios e mais pra frente descobre-se que o personagem é gay, o que segue sem maiores destaques dentro da história. Eu gostava de acompanhar a amizade entre o Eric e a Jenny, que parecem outra versão de Blair e Serena, que se fazem muito mal e se amam, mas a gente acaba por perder os dois personagens sem eles terem de fato contado alguma história. A Vanessa é uma que muda ao longo das temporadas, mas pra pior. Eles descaracterizam a personagem e quando ela sai da história sequer é amiga do Dan e parece uma pessoa muito ruim, o que certamente não era a proposta para ela (ainda que ela seja chata desde o início).
O Dan é outro que poderia ter sido melhor explorado ao longo da série, passando essa coisa do cara que é de fora daquela realidade e aparentemente pé no chão, mas que no fundo queria fazer parte daquele universo e esse desejo dele é maior do que se pode imaginar. O fato dele ser a GG me faz pensar como soa psicopata a relação dele com a Serena porque ele era apaixonado pela mulher e aí foi criar um blog onde ele domina a narrativa sobre a vida dela e essa narrativa é extremamente negativa e prejudicial à ela (e seus amigos). Uma obsessão.
Quem acaba por levar a série nas costas é a Blair. A personagem tem toda aquela imagem da menina romântica e sonhadora que quer viver um conto de fadas, é apaixonada por clássicos do cinema (Bonequinha de Luxo), gosta de ir ao lago alimentar os patos e é carente de afeto da família, mas é ambiciosa no pior sentido da palavra e não se envergonha de suas maldades. O humor da personagem às vezes é caricato demais e me deixava desconfortável assistindo, mas na maior parte do tempo é agradável e eu acabei me apegando e torcendo por ela. Tudo do universo de Blair ganha espaço na série, como o Chuck e a Dorota. O relacionamento dela com o Chuck rouba a cena diante das demais tramas, de forma que ao final isso é tudo que importa e a narrativa gira em torno dessa questão. A questão maior do que quem é a GG, é como o Chuck vai derrotar seu pai para poder viver com a Blair (num pacto que não faz o menor sentido). O figurino da Blair é o mais marcante da série, não só pelas faixinhas no cabelo (a marca da personagem), mas também pelas saias, vestidos e laços que nos guiam a respeito de sua personalidade.
Uma coisa legal é a representação de Blair como uma espécie de Audrey Hepburn e Serena como Marilyn Monroe. Falando nessas duas, um episódio que eu gostei muito é o penúltimo da segunda temporada. A história corre em torno dos sonhos de Blair para o dia do baile de formatura da escola. Aparentemente, ela vinha planejando sua formatura desde sempre em todos os detalhes, desde o seu par (Nate), como seria o vestido até ser coroada rainha do baile. Quem se esforça por trás do holofotes para que tudo saia conforme o planejado é Chuck. Já apaixonada por ele, ao longo da comemoração Blair percebe que ainda que tudo corra como desejou, não era mais aquilo o que queria para si mesma. Achei maravilhosa as cenas finais, quando Blair e Serena estão sentadas na escadaria dividindo seus conflitos e Serena fala que está acompanhada da pessoa que queria, sua melhor amiga. Esse desfecho com as duas juntas, bastando-se uma à outra, transformou esse episódio em um dos meus favoritos. Infelizmente, ao longo da série, Serena torna-se insuportável e os personagens (todos) se fazem tão mal que um final feliz deixa de parecer plausível.
Acho que a série marcou algumas pessoas que a acompanharam enquanto eram adolescentes, pelo que li por aí. Gossip Girl é mesmo ruim em muitos sentidos e serviu apenas para me distrair num momento em que eu precisava ver algo que não exigisse muita concentração. Terminei de assistir com a sensação de que poderia ter sido muito melhor. Uma pena.